Experimentando Mais de Deus – por Luciano Subirá
Tenho
aprendido um princípio importante de como podemos provar mais de Deus no
capítulo seis de Isaías, onde lemos acerca de uma fortíssima experiência dele
com Deus. A vida cristã é progressiva (Pv 4.18) e Deus quer que provemos cada
vez mais de sua presença. Esta experiência de Isaías foi um momento em sua vida
onde ele galgou um degrau a mais no seu relacionamento com Deus.
“No
ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime
trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima
dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus
pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo,
santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. As bases
do limiar moveram-se à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então
disse eu: Ai de mim! Estou perdido! porque sou homem de lábios impuros, habito
no meio dum povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos
Exércitos! Então um dos serafins voou para mim trazendo na mão uma brasa viva,
que tirara do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca, e disse: Eis
que ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado o teu
pecado Depois disto ouvi a voz do Senhor que dizia: A quem enviarei, e quem há
de ir por nós? Disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim”. (Isaías 6.1-8)
O impacto
no profeta foi tamanho que ele declarou ser um homem de lábios impuros no meio
de um povo de impuros lábios. Só que quando lemos os cinco capítulos anteriores
de seu livro, vemos uma forte mensagem contra o pecado. Não enxergamos este
Isaías de lábios impuros que ele descreve, apenas o Isaías “profeta”. Mas
quando provamos mais de Deus passamos a enxergar o quanto ainda precisamos do
Senhor e de seu tratamento em nossas vidas.
Todos
precisamos deste nível de experiência. Não que a visão em si vá se repetir a
cada um de nós, mas precisamos provar mais de Deus a ponto de enxergarmos nossa
miséria e entrarmos num novo nível em Deus. Isaías recebeu um toque purificador
em seus lábios, pois foi justamente aí que ele confessou ser falho; e passou a
ter uma nova consciência do chamado de Deus para o serviço (v.8).
NO ANO EM
QUE MORREU O REI UZIAS
Na
ocasião em que Deus começou a falar fortemente ao meu coração através deste
texto, comecei a me indagar o que levou o profeta a ter tal experiência. A
Bíblia diz que “tudo quanto foi escrito, para nosso ensino foi escrito” (Rm
15.4). Diz também que “estas coisas lhe sobrevinham como exemplos, e foram
escritas para advertência nossa” (1 Co 10.11). Portanto, a experiência de
Isaías não é apenas um relato histórico, mas um ensino prático para nós hoje. E
enquanto indagava sobre o que o levou a ter tal experiência, Deus vivificou
diante dos meus olhos a frase: “no ano em que morreu o rei Uzias”. Estou certo
de que ela não era apenas uma referência cronológica da experiência, mas a
descrição simbólica de sua causa. Isaías podia apenas ter dito em que ano do
reinado de Jotão, filho de Uzias, isto aconteceu, pois este começou a reinar
antes de seu pai morrer. Mas não se tratava apenas de um referencial no
calendário, e sim de uma figura importante no ensino que receberíamos.
Isaías
profetizou durante o reinado de quatro reis. Uzias foi o primeiro deles, o que
nos faz concluir que nesta época ele era ainda bem jovem. E na condição de
jovem, provavelmente era um admirador do rei Uzias, pois ele foi um dos reis
que mais deu vitórias a Israel em toda a sua história; provavelmente, como um
general de guerra sua fama tenha ficado apenas atrás de Davi. A nação
respeitava e amava este homem que lhe havia devolvido a glória e o prestígio. O
relato bíblico deixa claro o sucesso que este homem desfrutou governando a nação:
“Saiu
e guerreou contra os filisteus, e quebrou o muro de Gate, o de Jabne e o de
Asdode; e edificou cidades no território de Asdode, e entre os filisteus. Deus
o ajudou contra os filisteus e contra os arábios que habitavam em Gur-Baal, e
contra os meunitas. Os amonitas deram presentes a Uzias, cujo renome se
espalhara até a entrada do Egito, porque tinha se tornado em extremo forte.
Também edificou Uzias torres em Jerusalém, à Porta da Esquina, à porta do Vale
e à Porta do Ângulo, e as fortificou. Também edificou torres no deserto, e
cavou muitas cisternas, porque tinha muito gado, tanto nos vales como nas
campinas; tinha lavradores e vinhateiros, nos montes e nos campos fertéis,
porque era amigo da agricultura. Tinha também Uzias um exército de homens
destros nas armas, que saíam à guerra em tropas, segundo o rol feito pelo
escrivão Jeiel, e Maaséias, oficial, sob a direção de Hananias, um dos
príncipes do rei. O número total dos cabeças da famílias, homens valentes, era
de dois mil e seiscentos. Debaixo das suas ordens havia um exército guerreiro
de trezentos e sete mil e quinhentos homens, que faziam a guerra com grande
poder, para ajudar o rei contra os inimigos. Preparou-lhes Uzias, para todo o
exército, escudos, lanças, capacetes, couraças e arcos, e até fundas para
atirar pedras. Fabricou em Jerusalém máquinas, de invenção de homens peritos,
destinadas para as torres e cantos das muralhas, para atirarem flechas e
grandes pedras; divulgou-se a sua fama até muito longe; porque foi
maravilhosamente ajudado, até que se tornou forte”. (2 Crônicas 26.6-15)
Uzias foi
um líder respeitado e admirado. E podemos afirmar com toda a certeza, que o
jovem profeta o admirava. Mas foi somente quando morreu o rei natural, carnal,
que seus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos. Há um princípio espiritual
aqui. Somente quando morreu o rei Uzias é que os olhos de Isaías se abriram
para a revelação de Deus como rei. Ele viu o Senhor assentado num trono, o
lugar de autoridade dos reis. Ele viu as orlas de seu manto real enchendo todo
o templo. Mas para que pudesse ver o rei espiritual, o carnal teve que morrer.
Esta é uma figura profética. Se queremos ver o Rei, entrando numa nova
experiência com Deus, primeiro Uzias tem que morrer em nossas vidas.
O QUE
UZIAS SIMBOLIZA
O rei
Uzias figura este comportamento que temos denunciado desde o primeiro capítulo
deste livro, de querer usar Deus como um trampolim para receber aquilo que se
deseja, sem um forte senso de compromisso, de aliança com Deus. Ele começou
corretamente, mas depois demonstrou o que de fato estava em seu coração.
“Ele
fez o que era reto perante o Senhor, segundo tudo que fizera Amazias, seu pai.
Propôs-se buscar a Deus nos dias de Zacarias, que era entendido nas visões de
Deus; nos dias em que buscou ao Senhor, Deus o fez prosperar”. (2 Crônicas
26.4,5)
O texto
bíblico diz que “ele foi maravilhosamente ajudado (pelo Senhor) ATÉ QUE se
tornou forte”(v.15). Esta expressão “até que” nos mostra que a partir de então
Deus já não era necessário para ele, pois já chegara onde queria. Uzias é o
retrato do sentimento que há no coração de todos os que buscam ao Senhor por
interesse, apenas para alcançar o que querem. Tão logo Uzias alcançou o
sucesso, Deus se tornou descartável para ele. E assim são tantos que se dizem cristãos!
Sei o que estou falando. Nestes últimos anos de pastoreamento tenho percebido o
quanto isto ocorre no meio do rebanho.
É só
chegar a época do vestibular e a moçada se “converte”. Depois que entram na
universidade se esquecem que serviam a Deus e correm atrás do pecado. Quando
querem namorar e precisam da “benção de Deus” então, nem se fala! Mas depois
que foram “abençoados” voltam as costas ao Senhor e vão para a cama com a
“benção” que receberam.
Tenho
visto as pessoas chegarem à igreja porque precisavam de restauração familiar e,
quando isto aconteceu, não havia mais nem sombra delas! Outros necessitavam de
restauração financeira, outros de cura, e assim por diante… E quando recebiam o
que queriam, Deus já não era mais tão importante. Isto acontece porque o ser
humano é egoísta por natureza. Sua carne o leva a pensar somente em si mesmo.
Se não
ensinarmos estas verdades, iremos falhar e ver muitos outros falhando também. É
preciso confrontar o coração com a verdade da Palavra. E se quebrantar diante
de Deus. Veja o comportamento de Uzias:
“Mas,
havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração para a sua própria ruína, e
cometeu transgressões contra o Senhor, seu Deus, porque entrou no templo do
Senhor para queimar incenso no altar do incenso”. (2 Crônicas 26.16)
O rei
Uzias é símbolo e figura da auto-suficiência, do orgulho, e da falta de
compromisso com Deus. Representa aquele tipo de pessoa para quem Deus é apenas
um amuleto. Representa aquele tipo de crente que não corresponde com Deus e
suas intervenções, pois é egoísta e só pensa em si mesmo.
Uzias tem
que morrer se queremos ver a glória do Senhor e entrar numa dimensão mais
profunda de intimidade com ele. Somente quando Uzias morre (e falo sobre deixar
esta atitude que ele teve) é que veremos o Rei, o Senhor dos Exércitos. Esta
nossa atitude descompromissada e interesseira no que diz respeito aos milagres
nos tem impedido de provar uma visitação maior da parte do Senhor. É tempo de
nos arrependermos diante de Deus e assumirmos uma nova postura, uma nova
mentalidade. Uzias tem que morrer! Mas como isto acontece?
COMO
UZIAS MORRE
As
Escrituras nos mostram como o rei Uzias veio a morrer. Examinemos o texto
bíblico para extrair dele princípios práticos. Assim que Uzias entrou no templo
de Deus, os sacerdotes o resistiram, deixando-nos exemplo:
“Porém
o sacerdote Azarias entrou após ele, com oitenta sacerdotes do Senhor, homens
da maior firmeza; e resistiram ao rei Uzias, e lhe disseram: A ti, Uzias, não
compete queimar incenso perante o Senhor, mas aos sacerdotes, filhos de Arão,
que são consagrados para este mister; sai do santuário, porque transgrediste;
nem será isto para honra tua da parte do Senhor Deus. Então Uzias se indignou;
tinha ele o incensário na mão para queimar incenso; indignando-se ele, pois,
contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu na testa perante os sacerdotes, na casa
do Senhor, junto ao altar do incenso. Então o sumo sacerdote Azarias e todos os
sacerdotes voltaram-se para ele, e eis que estava leproso na testa, e
apressadamente o lançaram fora; até ele mesmo se deu pressa em sair, visto que
o Senhor o ferira. Assim ficou leproso o rei Uzias até o dia de sua morte; e
morou, por ser leproso, numa casa separada, porque foi excluído da casa do
Senhor; e Jotão, seu filho, tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o povo da
terra”. (2 Crônicas 26.17-21)
A Bíblia
mostra claramente que o Senhor mesmo feriu a Uzias com a lepra. Mas só
aconteceu depois que os sacerdotes o resistiram. Quando percebemos esta atitude
de Uzias em nossas vidas, devemos nos opor fortemente a ela. Não podemos
aceitar ou tolerar isto em nós. Somos o santuário de Deus e também o sacerdócio
instituído para cuidar do santuário. Devemos tomar posição contrária a este tipo
de atitude. Deus não é um amuleto para que o usemos apenas para conseguir o que
queremos. Não é descartável. Mas nossa carne nos leva a um viver egoísta e é
preciso reconhecer e confrontar esta atitude.
Quando
nos deixamos tomar pelo temor de Deus e confrontamos em oração e temor este
tipo de atitude, o Senhor ferirá Uzias de morte. Não há morte instantânea para
ele. É um processo. A lepra o matou aos poucos. E nas nossas vidas será também
assim. Não adianta fazermos uma única oração e achar que tudo se resolverá.
Uzias permaneceu EXCLUÍDO (pelos sacerdotes) da casa do Senhor até a sua morte.
E nós também, como sacerdotes de Deus, devemos mantê-lo longe do santuário (que
somos nós). Devemos nos opor continuamente a ele até que morra e já não haja
mais sua influência em nós. E quando isto acontecer, os nossos olhos verão o
Rei, o Senhor dos Exércitos!
Há todo
um processo de quebrantamento, rendição, e humilhação contínua diante do Senhor
até que isto aconteça. Não é automático. Mas vale a pena. A possibilidade de
ver o Rei, e conhecê-lo num novo nível deve nos motivar a isto.
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Autor:
Luciano P. Subirá. É o
responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de
Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly,
é pai de dois filhos: Israel e Lissa.
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